Entre a confiança e o risco: como identificar laboratórios sérios e se proteger de irregularidades que podem comprometer diagnósticos e tratamentos.
A confiabilidade dos laboratórios de análises clínicas no Brasil é um tema de saúde pública que exige atenção redobrada. Apesar de a maioria seguir padrões rigorosos, casos de fraudes e irregularidades — como adulteração de resultados, emissão de laudos falsos ou cobrança por exames não realizados — são registrados e podem comprometer diagnósticos, atrasar tratamentos e colocar vidas em risco.
Sim, é possível fraudar exames laboratoriais para beneficiar quem os solicita — seja um médico (como no caso de um endocrinologista ou urologista, apenas como exemplo) ajustando um resultado de T4 livre (tireoide) ou PSA (próstata), um hospital, um plano de saúde ou até mesmo o próprio paciente. No entanto, isso envolve riscos éticos, legais e profissionais graves, que podem levar à cassação de registro profissional, processos judiciais e, em casos mais extremos, à prisão.
Laboratórios sérios buscam certificações como a ISO 15189, que padroniza a qualidade e competência em exames laboratoriais, e acreditações nacionais como as da SBPC/ML. Programas como o PELM (Proficiência em Ensaios Laboratoriais) avaliam periodicamente a precisão dos resultados por meio de comparações interlaboratoriais, garantindo confiabilidade técnica.
A regulação é feita por órgãos como Anvisa, CFM e Ministério da Saúde, que aplicam normas como a RDC 302/2005, responsável por definir boas práticas laboratoriais. Quando há suspeita de fraude — seja adulteração de resultados, manipulação de dados para beneficiar convênios ou emissão de laudos sem realização do exame — o paciente deve registrar denúncia junto à Anvisa, ao Conselho Regional de Medicina ou ao Ministério Público.
Laboratórios terceirizados vinculados a hospitais ou planos de saúde podem levantar questionamentos sobre conflitos de interesse, como solicitação excessiva de exames ou priorização de contratos sobre a qualidade. A integridade de bioquímicos, patologistas e técnicos é fundamental para manter a ética e a credibilidade do serviço.
O HCRP, vinculado à USP, só aceita exames realizados em seu próprio laboratório. Isso pode refletir:
Padronização e controle de qualidade, garantindo uso de equipamentos e reagentes uniformes.
Rastreabilidade, permitindo checagem e repetição imediata.
Segurança jurídica, evitando a responsabilidade por laudos de terceiros.
Embora seja uma prática comum em hospitais de alta complexidade, também pode levantar debate sobre interesses econômicos, já que impede o uso de exames realizados fora.
Escolha laboratórios com acreditações reconhecidas.
Desconfie de resultados muito rápidos ou discrepantes em relação a exames anteriores.
Solicite sempre cópia dos laudos e, se necessário, repita exames críticos em outra instituição.
Em caso de suspeita, denuncie.
Conclusão: A confiança no sistema depende tanto da qualidade técnica quanto da transparência e fiscalização efetiva. É dever do paciente estar atento, questionar quando necessário e exigir padrões que garantam diagnósticos precisos e seguros.
No próximo artigo, vamos mostrar como funcionam as auditorias laboratoriais e de que forma elas podem evitar fraudes, garantindo que o paciente receba resultados precisos e confiáveis.